A FUGA

Um dia, os mortos se levantaram e caminharam pela Terra. Não houve nenhum acontecimento especial, nenhum aviso nos céus. Eles apenas se levantaram e começaram a atacar os vivos. Mas o surpreendente é que, mesmo com todos os filmes, livros, histórias em quadrinhos e videogames a respeito, o fato pegou todo mundo de surpresa. Claro que tudo o que se sabia sobre os mortos-vivos estava errado, então não se pode culpar ninguém pela surpresa.
Primeiro, os mortos são silenciosos. Eles não grunhem, gemem ou lamentam. Você não ouve eles se aproximando. Segundo, os mortos não estão interessados em comer você. Eles querem apenas que você esteja como eles: mortos. Terceiro, e mais importante, um tiro na cabeça não adianta nada. Eles continuam vindo na sua direção. Corte um braço e além de um morto-vivo, você terá também o braço dele tentando pegar você. Mas, em uma coisa eles acertaram, os mortos são lentos.
Não que isso adiante muito, porque eles não cansam. Estou escrevendo sobre isso porque imagino que sou o último homem vivo. Pelo menos, eu não vi mais ninguém nos último 7 anos. A última pessoa com quem tive contato, foi uma mulher. Ela caminhava em direção à Onda com um olhar cansado. Tentei falar alguma coisa, mas não consegui pensar em nada que pudesse fazê-la mudar de idéia.
A Onda é como eu passei a chamá-los, acho que faz quase 20 anos. Antes eram os mortos e antes disso, bem no começo, era o cara de camisa vermelha. Ele é o mais antigo da Onda e está sempre na frente. Na época em que ele me viu, ainda existia mais pessoas vivas do que mortas andando pelo planeta. Eu estava procurando comida em um supermercado, torcendo para que tivesse sobrado algo depois dos saques. Ele estava lá e começou a vir na minha direção.
Saí do supermercado, caminhando rapidamente. Não é necessário correr, como disse, eles são lentos. Voltei para o meu apartamento, juntei os meus poucos mantimentos e decidi sair da cidade. Procurar algum lugar menos habitado. Quando estava saindo do prédio, ele estava lá. O mesmo do supermercado, com sua camisa vermelha, onde ainda podia-se ler em letras azuis: “Minha outra camiseta é mais engraçada”.
De algum jeito, ele me seguiu. Eles fazem isso. Nos últimos 40 anos, varios outros se juntaram ao primeiro. Não me lembro quando foi a última vez que dormi mais do que duas horas seguidas. Caminhando, procurando comida e parando para descansar. Mas eles não cansam. Eu já posso vê-los no horizonte, em todas as direções, até onde a vista alcança. Na frente, o mesmo com a camisa vermelha.
Eu escrevo esse relato para que alguém possa entender. Eu não desisti de fugir. Eu só encontrei uma fuga melhor. Finalmente, depois de 40 anos, eu percebi que estava caminhando para o lado contrário.

Um dia, os mortos se levantaram e caminharam pela Terra. Não houve nenhum acontecimento especial, nenhum aviso nos céus. Eles apenas se levantaram e começaram a atacar os vivos. Mas o surpreendente é que, mesmo com todos os filmes, livros, histórias em quadrinhos e videogames a respeito, o fato pegou todo mundo de surpresa. Claro que tudo o que se sabia sobre os mortos-vivos estava errado, então não se pode culpar ninguém pela surpresa.

Primeiro, os mortos são silenciosos. Eles não grunhem, gemem ou lamentam. Você não ouve eles se aproximando. Segundo, os mortos não estão interessados em comer você. Eles querem apenas que você esteja como eles: mortos. Terceiro, e mais importante, um tiro na cabeça não adianta nada. Eles continuam vindo na sua direção. Corte um braço e além de um morto-vivo, você terá também o braço dele tentando pegar você. Mas, em uma coisa eles acertaram, os mortos são lentos.

Não que isso adiante muito, porque eles não cansam. Estou escrevendo sobre isso porque imagino que sou o último homem vivo. Pelo menos, eu não vi mais ninguém nos últimos 7 anos. A última pessoa com quem tive contato, foi uma mulher. Ela caminhava em direção à Onda com um olhar cansado. Tentei falar alguma coisa, mas não consegui pensar em nada que pudesse fazê-la mudar de idéia.

A Onda é como eu passei a chamá-los, acho que faz quase 20 anos. Antes eram os mortos e antes disso, bem no começo, era o cara de camisa vermelha. Ele é o mais antigo da Onda e está sempre na frente. Na época em que ele me viu, ainda existiam mais pessoas vivas do que mortas andando pelo planeta. Eu estava procurando comida em um supermercado, torcendo para que tivesse sobrado algo depois dos saques. Ele estava lá e começou a vir na minha direção.

Saí do supermercado, caminhando rapidamente. Não é necessário correr, como disse, eles são lentos. Voltei para o meu apartamento, juntei os meus poucos mantimentos e decidi sair da cidade. Procurar algum lugar menos habitado. Quando estava saindo do prédio, ele estava lá. O mesmo do supermercado, com sua camisa vermelha, onde ainda podia-se ler em letras azuis: “Minha outra camiseta é mais engraçada”.

De algum jeito, ele me seguiu. Eles fazem isso. Nos últimos 40 anos, varios outros se juntaram ao primeiro. Não me lembro quando foi a última vez que dormi mais do que duas horas seguidas. Caminhando, procurando comida e parando para descansar. Mas eles não cansam. Eu já posso vê-los no horizonte, em todas as direções, até onde a vista alcança. Na frente, o mesmo com a camisa vermelha.

Eu escrevo esse relato para que alguém possa entender. Eu não desisti de fugir. Eu só encontrei uma fuga melhor. Finalmente, depois de 40 anos, eu percebi que estava caminhando para o lado contrário.

2 comentários em “A FUGA

  1. Massa. Deviam fazer um filme com base nesse conto. Algo bem dramático claro, o momento em que ele decide caminhar na direção (que julga) certa.

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